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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O jardim das palavras















O JARDIM DAS PALAVRAS


Observei-te desde a janela regando as plantas murchas do jardim

Amanhá há chover e as pingas ham ser vidros com afiado gume

esnaquiçando as pétalas secas e sem vida para serem inumadas

e tornadas de novo em semente fértil para procriarem beleça


Nom desejo flores frescas recem cortadas acima da minha cova

coma bodegons frios e lúgubres que emudecem os sentimentos

Acredito na emoçom das palavras agradecidas em versos e rimas

de louvança dumha sutil existência que ficou gravada em pedra


No jardim das palavras nascerám sílabas que acentuem o silêncio

omitindo as bágoas que já nom ham escorregar polo meu rosto

após serem ocultadas pola noite perpétua que abrangeu de súpeto

meu corpo doente para rematar grávido de devoradores vermes


Observarei-te desde o além regando os verdes gromos das flores

É bom que medrem enquanto a lua ainda permanece no crescente

No amencer as pétalas húmidas polo orbalho cintilam ao sol

intensificam-se as cores e arrecendem os perfumes com o seu frescor


Saberei da chegada da primavera ao florescer do virtuoso loureiro

ao pé da tumba sob a lousa onde jacem os ossos e restos putrefactos

Ajejarei entre as tebras polos resquícios do túmulo o lueiro da noite

E acordarei as manhans recitando os versos que me aprendera a poeta

domingo, 3 de outubro de 2010

FURACAN MARINHO















FURACAM MARINHO

Barca em que navego desorientada

Sinto mareios com o seu embalar agitado

nas augas bravas

encoleriçadas, de remuinhos

pretos e abissais.

Os remos nom me pertencem

nom os dou topado para vencer

o furacam de auga que já me afoga

Abraça a minha cara com força

incoerente e abatidora.

De súpeto lança-me

em todas direcçons

Surgem das profundidades

ondas gigantes coma tsunamis

A sua negrura abrumadora

produz-me terror mas também

ansias e raiva para poder

destruir sua enorme potência,

imensa e devoradora do meu ser

ferido, mas íntegro.

Aquí estou, só, e no isolamento

luito contra a besta cruel

que deseja possuir-me.

Contra este poder egoista

e aniquilador:

Nas noites de lua crescente

com envolvente circo. Parece que

muda o tempo e me disponho

Ou as de lua cheia onde crio

feitiços para acabar com

a maldade da natureza.

Na saudade dos dias a passar

lentos, espessos e opacos.

Nas primaveras que ainda

sinto longe.

Nos invernos perpétuos

que me acompanham

a cada momento.

Nas horas polas que o tempo

nom passa e som acedas

Na extensom do meu quarto

de salvaçom, onde fico isolada

desafogo e reuno forças.


Qual é a causa de quereres

submeter-me a inconsciência

fóbica dum furacám marinho?


Qual é o motivo desse ímpetu

desmesurado de apoderares-te

da minha vida?


Qué has fazer após me destruires pola

força dos teus desastres psico-naturais?


Achas que teu trunfo será exemplo

para manter em pé outros furacáns

assoladores e catastróficos?


E depois qué...O teu trunfo há de ser

a desgraça dumha parte importante

da Humanidade criadora, e tu, já

nom serás mais que o engendro

da morte.