A SERPE
Fria e viscosa serpe que se abraça
afoga minha voz e quita a vida
enquanto muda a húmida coraça
eu procuro o caminho da fugida
mas é agil e arrasta sua figura
até atingir a força estremecida
que origina e cria minha amargura
e destrui a via pela que caminho
causando destroços com impostura
mas, ainda assim, às vezes adivinho
o instinto da besta no desafio
convertido o ánimo em desalinho
vago sem rumo ao livre alvedrio
ela me persegue com muito tino
eu também a espreito com arrepio
para perceberem qual é o destino
e mudarmos o rumo já disposto
polo reptil selvagem e assassino
Eu quero berrar forte e sobreposto
ao ruido que emite quando chia
mirar de frente, sem medo, seu rosto
e nom render-lhe jamais pleitesia
proclamando bem alto umha protesta
contra sua opressom e tirania
Hei matar a ruim cobiça da besta
para que nom se instale e permaneça
alimentada com a nossa ingesta
Batem os coraçons com grande arela
de poderem expressar com firmeça
as palavras da razom sem cautela
É tempo de dar-lhe em toda a cabeça
matar a submissom que nos produz
viver sob a tutela desta peça
Afastar-nos há de quem nos conduz
ao abismo que nos desapareça
sem dia, sem sol, sem nengumha luz
De nós depende que nos acaeça
Belém Grandal