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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A SERPE



















A SERPE

Fria e viscosa serpe que se abraça

afoga minha voz e quita a vida

enquanto muda a húmida coraça


eu procuro o caminho da fugida

mas é agil e arrasta sua figura

até atingir a força estremecida


que origina e cria minha amargura

e destrui a via pela que caminho

causando destroços com impostura


mas, ainda assim, às vezes adivinho

o instinto da besta no desafio

convertido o ánimo em desalinho


vago sem rumo ao livre alvedrio

ela me persegue com muito tino

eu também a espreito com arrepio


para perceberem qual é o destino

e mudarmos o rumo já disposto

polo reptil selvagem e assassino


Eu quero berrar forte e sobreposto

ao ruido que emite quando chia

mirar de frente, sem medo, seu rosto


e nom render-lhe jamais pleitesia

proclamando bem alto umha protesta

contra sua opressom e tirania


Hei matar a ruim cobiça da besta

para que nom se instale e permaneça

alimentada com a nossa ingesta


Batem os coraçons com grande arela

de poderem expressar com firmeça

as palavras da razom sem cautela


É tempo de dar-lhe em toda a cabeça

matar a submissom que nos produz

viver sob a tutela desta peça


Afastar-nos há de quem nos conduz

ao abismo que nos desapareça

sem dia, sem sol, sem nengumha luz

De nós depende  que nos acaeça

                              Belém Grandal

sábado, 14 de agosto de 2010

A LUA


A LUA

Geometria do circo pendurada no espaço

alvura sem esquinas levitando equidistante

quero encher de palavras tuas fundas cráteras

e prenhar-te entre as marés da fertilidade.


Quando o sol alumeie teu grávido ventre

parirás quatro luas entre a terra e o universo

lua nova e crescente, lua cheia e minguante

eróticas feminidades com impúdico sexo.


E nos eclipses as tevras cobrem tua imagem

tudo é escuridade e assombroso silêncio

desculpa se estorvo com minha presença!

este instante intenso de arrepiante mistério.


Às vezes debuxo teu contorno na parede

e pinto umha cara que me mira de esguelha

e umha boca de inocente sorriso cativadora

mentres contemplo ao longe só tua esfera.


Nas noites de redondeza e diáfana claridade

ouveam os lobos lá na espessura da floresta

os morcegos saem dos seus refúgios e voam

descrevem circos de lua ante tua presença.


As pantasmas vagam pelos estreitos rueiros

na procura de almas perdidas e sem descanso

ou de vidas que ficam aos poucos sem alento

é a santa companha compartilhando teu fato.


Quero roçar tua superfície nú com meus dedos

deitar-me no teu berço entre os cornos ergueitos

adormecer com suaves arrolos, cantigas e versos

e espertar-me aconchegada lambendo teus peitos.


                                                     Belém Grandal

terça-feira, 3 de agosto de 2010

CADEIAS DAS NAÇONS



CADEIAS DAS NAÇONS

E nos entardeceres
muros e sombras
neste lôbrego espaço
nom sinto a aurora.
Nom sinto o vento
só um punhal espetado
no pensamento.

O tempo que ainda fica
é fruita amarga,
mas se converte em doce
quando se acaba.
Só os campos ermos
onde o inimigo mora
dam fruitos secos

Os corpos maltratados
ainda resistem
os ódios e malheiras
que lhes infligem
Sempre é impossível
destroçar em anacos
o indivisível.

Nom sinto a luz da lua
entre os meus dedos
reflectir-se na cara
dos meus anelos.
Sinto as miradas
estranhas que me seguem,
desconfiadas.

Pom a mao no meu ombreiro
quero teu alento
que insufle dignidade
a este momento.
Olha os vigias,
eles tremem de medo,
sabem mentiras.

Há ser longo o caminho
na soidade
deste fechado inferno
de atrocidade.
Mira os meus olhos
desejam nova vida,
estam ansiosos.

Agora sinto o vento
também a aurora,
sinto o fulgor da lua
nom estou soa
Levo memória
de todo o sofrimento
Maldita Estória!

Nas grades das masmorras
entre as paredes
berram forte as vozes
que as liberdedes
Batem na porta
erguendo o punho em alto
já chega a hora!